Mutilação Genital Feminina
- Vany Giannini
- 18 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de jun.
Não posso falar do clitóris e não falar sobre a história de perseguição que ele enfrentou e ainda enfrenta em diversas culturas e crenças, principalmente em países da África, e menos comum, mas ainda assim no Oriente Médio. Sem contar os mitos e tabus que envolvem o tema.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Mutilação Genital Feminina (MGF), ou a circuncisão feminina como também é conhecida, é uma forma de violência de procedimentos que implicam a remoção parcial ou total do clitóris, grandes ou pequenos lábios. Eles são simplesmente arrancados por meio de facões e navalhas, sem nenhum critério ou qualquer cuidado profilático. Não é só dolorosa e estressante, mas também gera sérios riscos à saúde, como infecções, levando até a infertilidade. Sem contar dos efeitos negativos e consequências irreversíveis do ponto de vista psicológico e social.
Comum meninas entre 4 e 12 anos de idade sofrer com a mutilação, apesar de que algumas culturas o procedimento é realizado logo após o nascimento ou, o mais tardar, como ritual passagem da mulher para a vida adulta, tornando a “pura” e digna para o matrimônio.
Outra crença é de que o clitóris é visto como uma falsa representação do pênis e, portanto, podendo crescer se não for retirado, além de razões estéticas e de higiene, vista como suja e feia.
A Somália é o país de maior incidência em mutilação genital no mundo. Segundo dados divulgados pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), 98% das somalis com idade entre 15 e 49 anos passaram pelo procedimento. A Guiné tem o segundo maior índice de circuncidadas, enquanto o Egito acomete 91% da população.
Espantosamente, todos os anos, cerca de 3 milhões de meninas são submetidas a mutilação genital no mundo. E a Unicef ainda estima que em até 2050 este número pode chegar a 63 milhões.
Segundo estimativas da OMS, 8.000 meninas são vítimas dessa incrível brutalidade todos os dias.
E por mais bizarro que possa parecer, já se fazia cirurgias de remoção do clitóris, na época de 1860. Conhecida como clitoridectomia, um médico inglês chamado Isaac Baker Brown, grande opositor da masturbação feminina, defendia a remoção do clitóris enquanto cura para as ditas “fraquezas femininas” com o pretexto de curar histeria e todos os sintomas relacionados a ela. Utilizava clorofórmio e tesoura com o objetivo de melhora imediata nas suas pacientes após o corte. Porém, os resultados não eram tão satisfatórios como era de se esperar. Mas, o pior era de que Isaac Brown ainda realizou várias delas até 1866, sem o conhecimento das pacientes, o que o levou a ser acusado de charlatanismo e até a ser expulso da “Obstetrical Society of London”.
Na França, por volta também dessa mesma época, o médico Jules Guérin "curava" as suas pacientes queimando os clitóris com um ferro em brasa. E se ainda aprofundarmos nas pesquisas, certamente mais profissionais seriam aqui mencionados. O problema é que não parou por aqui...e o pior é de que atualmente a mutilação é reconhecida internacionalmente como violação dos direitos humanos, como uma forma extrema de discriminação e violência.
Na Somália, este procedimento é proibido por lei, mas pelo que se sabe nem sempre respeitado. A Unicef, em parceria com o governo federal da Somália atuam para implementar novas legislações sobre o assunto e contam com auxílio de assistentes sociais e médicos, entre outros profissionais, para aconselhar a população a se opor à prática nas áreas mais isoladas do continente.
Campanhas que tentam conscientizar ou ao menos esclarecer o assunto estão cada vez mais presentes.
A ONU definiu dia 6 de fevereiro como “Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina”.
Fundadora da Ong chamada “Desert Flower Foundation” (Fundação Flor do Deserto), Waris Dirie foi vítima de uma circuncisão quando tinha quatro anos de idade e vem fazendo um belo trabalho despertando um novo olhar para o tema.
Na sua história, aos 13 anos, fugiu de casa por ser obrigada a casar com um homem cuja idade equiparava a de seu avô. Atravessou com o seu cachorro um dos desertos somalis inteiro, sofrendo com fome, sede e ficando com vários ferimentos nos pés, os quais deixaram marcas e cicatrizes até hoje.
Passou de uma vida nômade e sofrida para uma vida pública, quando foi descoberta como modelo. Virou celebridade e foi fotografada para o calendário Pirelli, Revlon e principais revistas famosas.
Atualmente é embaixadora da ONU e defensora da luta pela erradicação da prática de Mutilação Genital Feminina, e seu compromisso é formar homens e mulheres comprometidos com a igualdade de gênero, direitos humanos que compartilham o ideal de acabar com a prática.
O que de fato não podemos é legitimar e compactuar crueldades e desigualdades com a desculpa da tradição. E que cada vez mais possamos não só refletir sobre o tema, mas também esclarecer e levar conhecimento sobre a importância de um assunto tão delicado e ao mesmo tempo assustador!





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